Na descolagem senti aquele medo habitual. O corpo encolhe, a mente acelera. Sem pensar, apertei a mão do Du. Ele não reagiu. Não se afastou, mas também não retribuiu. Ficou ali, quieto. E eu percebi. Soltei devagar. Não quis que notasse o que aquele gesto dizia sem palavras.
Durante o voo tivemos conversas que tocaram mais fundo. Falámos de coisas sérias, coisas que normalmente ficam no fundo da gaveta. Foi estranho como tudo fluiu com leveza, mesmo sendo denso. Com ele sinto que posso dizer mais do que costumo mostrar.
Na aterragem, quando o medo voltou, ele percebeu. Ele foi-me apontando lá de cima as ruas, os bairros, os lugares de Lisboa que começávamos a ver da janela, entre um sorriso e um suspiro, fui voltando devagar ao corpo. Como se aquelas palavras me trouxessem de volta ao chão com menos medo.
Foi uma aterragem suave por fora e confusa por dentro. Nem sei bem o que sinto. Só sei que com ele tudo parece mais fácil de suportar, mesmo o que nunca deixei ninguém ver. E talvez isso diga mais do que qualquer resposta que ele não me deu.
Por fim passei a noite na casa dele. Adorava ter dormido abraçado a ele, mas isso é pedir de mais.